sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A psicologia do Suicida


Significado do acto suicida          
Embora aqueles que rodeiam o adolescente suicida vejam o acto do suicídio deste como um acto infantil ou uma forma de chamar a atenção, o suicídio é algo muito maior e mais complexo que isso.       
Para começar a compreender este acto, temos que primeiro perguntar a nós próprios por que alguém desejaria acabar com a própria vida e tentar suicídio? Certamente não será uma decisão fácil de tomar, seja em que idade for, mas tenhamos em atenção que é na adolescência que muitos destes casos ocorrem.      
Ao tentar responder a essa pergunta, facilmente chegamos à conclusão de que vários autores (por exemplo, Crumley, 1982; Joffe, 1989; Laufer, 1993) tinham razão ao dizer que as tentativas de suicidio são sempre sinal de um estado mental deteriorado e de uma patologia grave.        
Para compreender melhor uma tentativa de suicidio na adolescência, temos que examinar o acto em si e o seu significado. Sampaio (1995) afirma que apesar de ser um gesto individual, o suicidio tem um significado relacional. Este autor refere que a tentativa de suicidio na adolescência pode ser dividida em quatro tipos fundamentais, nomeadamente:
·       Apelo – O adolescente tem como intenção pedir ajuda;
·       Desafio – O jovem pretende com o seu gesto contestar uma certa autoridade.
·       Fuga – O adolescente tenta suicidar-se com a intenção de escapar a sentimentos negativos e ao isolamento em que possa ter caído.
·       Renascimento – Com a sua morte, o adolescente pretende renascer de forma diferente.
Sampaio afirma ainda que existem factores predisponentes a uma tentativa de suicídio, tais como histórias familiares ou da pessoa em questão de depressão ou suicídio; historial de problemas psiquiátricos ou de dependência a substâncias químicas; personalidade impulsiva, que na presença de uma situação limite, leve ao comportamento suicida.        


O Adolescente Suicida

A adolescência é um período conturbado e difícil, cheio de mudanças a nível físico, emocional, intelectual e sexual.   
Tal como Catalina Bronstein afirma, a auto-imagem da criança pré-adolescente dá lugar à tomada de consciência de um corpo cambiante, um corpo sexual maduro que anuncia a chegada de uma nova identidade, novas liberdades e novas responsabilidades, e o indivíduo tem que ter a capacidade para enfrentar estas mudanças, capacidade essa influenciada por muitas caracteristicas de personalidade construidas na infância.           


Figura 4 - Muitos adolescentes pensam no suicídio como uma escapatória da sua tristeza.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Família:
Segundo os estudos efectuados pelos técnicos de saúde mental, reflectido nos relatórios da OMS, a família é um dos principais factores de risco, pois é o meio onde o adolescente se desenvolve, e quando o meio familiar se encontra em desequilíbrio, o adolescente tende também para o desequilíbrio, sendo mais difícil ainda enfrentar as mudanças do seu desenvolvimento.
Vários problemas podem estar subjacentes à família, tais como:
·       Conflitos parentais e conjugais;
·       Abuso físico/psicológico;
·       Violência Doméstica;
·       Alcoolismo de um dos pais;
·       Dificuldade ou falta de comunicação;
·       Rejeição do Adolescente;
·       Dificuldade em negociar ou aceitar as suas obrigações e direitos;
·       Falta de apoio dos parentes;
·       Dificuldades Económicas.




A sociedade:
·       A integração num grupo e aceitação pelos pares, as tentativas de sucesso são uma das causas dos sentimentos negativos dos adolescentes. Os fracassos nesta área são uma causa frequente de depressão e angústia.
·       O papel de “pequeno adulto” que os pais, os professores e o meio que os envolve exige que se responsabilizem pelos seus actos e que tomem decisões difíceis que muitas vezes ainda não estão preparados para ter.


Factores Físico/Psicológicos:
·       Os adolescentes sofrem uma alteração do seu “eu”, devido às mudanças corporais, e quando o seu corpo se altera o adolescente perde o referencial que possuía, sentindo-se desorganizado, desajeitado, pouco atraente.
·       O adolescente ao sentir-se desinteressante apresenta logo uma baixa auto-estima, experimentando alterações no apetite e no sono, culpabilizando-se da sua má aparência. A baixa auto-estima faz com que se veja a si mesmo como sem valor, feio, desinteressante e cheio de falhas pessoais.
·       Os sentimentos angustiantes e depressivos levam, invariavelmente, a prejuízo na saúde, na escola, no relacionamento familiar e social.
·       A nível sexual, o adolescente sente-se pressionado em definir a sua identidade sexual para poder estabelecer uma relação com outro, o que faz com que se sinta ainda mais ansioso.





Factores Emocionais/Afectivos:
·       Para o adolescente o lado emocional é muito impetuoso (agir sem pensar), onde tudo está revolto:
o    O corpo;
o   As relações e as exigências sobre ele.

·       A Adolescência é o período onde surge o descobrimento das relações amorosas, sendo por vezes tão fortes que o adolescente não consegue suportar a sua perda. A sua dor é tão intensa que tem a impressão que nunca mais recuperará e voltará a ser feliz.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Os homens tendem a usar métodos mais violentos como saltar de lugares elevados e o uso de armas de fogo. As mulheres tendem a usar medicamentos, venenos e ferimentos (cortar os pulsos), o que explica o facto de as tentativas de suicídios dos homens serem mais bem sucedidas.
A última opção das mulheres é, geralmente, as armas de fogo, enquanto nos homens o afogamento é a menos comum.
Actualmente foram escritos vários livros cujo conteúdo aborda os vários métodos de suicídio, muitas vezes considerando o grau de dor, de eficácia, de facilidade em obter os objectos necessários ao acto… Wataru Tsurumi escreveu “O Manual Completo de Suicídio”, tendo vendido milhões de exemplares. No seu livro ele considera 11 categorias: overdose, enforcamento, corte do pulso e carótida, auto-defenestração, colisão de carro, envenenamento por gás, choque eléctrico, afogamento, auto-imolação, congelamento, outros. Este livro avalia cada método em termos da dor que ele causa, a preparação necessária, a aparência do corpo após a morte e sua letalidade. Este género de livros é considerado por alguns como propulsor ao suicídio, sendo muitas vezes proibidos pelos governos ou entidades com autoridade para tal.
Pensa-se que existem cerca de seis milhões de maneiras para por termo à vida, muitas delas são bastante ineficazes ou exigem a utilização de instrumentos de dificílimo acesso.





Causas do Suicídio na adolescência

A tentativa de suicídio na adolescência mostra uma presença de um mal-estar importante, mostrando um “grito de dor” (desespero) e muitas vezes como um pedido de ajuda da parte do adolescente.
As causas do suicídio dos adolescentes não cabem num item simples e directo, têm razões diferentes mas, estudos vários chegam à conclusão de que a maioria vem da inadaptação, dificuldades em encaixar e aceitar as novas mudanças, de deixar de ser criança para ser adulto. O adolescente sente que a segurança da infância foi abandonada e que tem de passar a lutar pelo seu lugar no mundo. É um acumular dos problemas vividos no passado e dos problemas vividos no presente.
A adolescência é um período de intensas mudanças que embora normais, fazem com que o jovem experimente grandes níveis de angústia, ansiedade, solidão. 
Por norma os adolescentes suicidas, tem como objectivo mudar de vida e não por fim à mesma.
A adolescência é um dos períodos mais propícios ao comportamento suicida. Devido a ser um período de mudança em todos os níveis familiares, sociais, físicos/psicológicos e emocionais/afectivos, sendo estes as grandes causas do suicídio.
Figura 3 – Desespero.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Métodos de suicídio


Os métodos de suicídio são extremamente variados, o método escolhido por um indivíduo para se suicidar é, frequentemente, determinado pela disponibilidade e por factores culturais. Assim, por exemplo, o acesso muito mais fácil aos pesticidas agrícolas nas áreas rurais, torna muito mais frequentes as intoxicações letais nesse meio. Já o cruzamento das áreas urbanas por estradas de grande movimento, bem como por caminhos de rede ferroviária, torna mais frequente de ocorrência de suicídios por exposição ao atropelamento nas cidades. Algo análogo ocorre com a existência de prédios e viadutos, o que facilita, nas áreas urbanas, as condutas autodestrutivas por precipitação, o que seria bem mais raro, nas áreas rurais.
Nas tentativas de suicídio, os métodos utilizados variam de relativamente não-violentos (como envenenamento, overdose ou inalação de gazes do escape de um carro) até métodos violentos (como o atropelamento ou a mutilação).
O método escolhido também pode reflectir a seriedade da tentativa, uma vez que alguns métodos (ex. saltar de um edifício alto) tornam praticamente impossível a sobrevivência, enquanto que outros (ex. dose excessiva de um medicamento) possibilitam uma tentativa de resgate. No entanto, a utilização de um método que revela não ser fatal não indica necessariamente que a intenção do indivíduo era menos séria.


Figura 1 – Jovem “à beira do abismo”.


Quando o desejo é apenas de chamar a atenção ou pedir auxílio, os métodos violentos são pouco utilizados, sendo o envenenamento com fármacos e a auto-mutilação utilizados em maior escala, na maior parte dos casos o suicida assegura-se de que alguém correrá em seu auxílio.
Em aproximadamente 20% dos suicídios são utilizados dois ou mais métodos ou uma combinação de medicamentos, o que aumenta o risco de morte.
O enforcamento é o método de suicídio mais utilizado em 16 países europeus, incluindo Portugal, representando quase metade do total de casos, ainda que a sua utilização seja mais acentuada no sexo masculino. A sobredosagem de medicamentos também tem uma elevada taxa de utilização devido à livre circulação dos medicamentos e ao seu fácil acesso. Nos Estados Unidos a utilização de armas de fogo é o método mais popular.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O suicídio em geral

Suicídio, do latim sui (próprio) e caedere (matar), é um acto que consiste em pôr fim intencionalmente à própria vida.
Define-se suicídio como a atitude individual, premeditada, de extinguir a própria vida por acto deliberado, podendo ser motivada entre outros factores por um elevado grau de desespero, sofrimento, depressão nervosa, considerando-se desta forma um acto deliberado e consciente, com vista a rectificar a honra, ou a sair de situações de grande desespero.
Quando o suicídio não é deliberado, torna-se difícil de identificar o motivo da morte, a nível médico que tanto pode ser suicídio propositado ou ter a origem em algum transtorno psiquiátrico como a psicose aguda (quando o indivíduo sai da realidade, porém não o percebe) ou a depressão delirante. Esses casos não são tratados como suicídio mas sim morte por transtorno mental.
Caso haja uso continuado de drogas ou de bebidas alcoólicas, deixa-se o quadro de suicida e entra-se no quadro médico. O suicida pode, ou não, deixar uma nota de suicídio escrita, podendo ser gravada ou expressa a amigos, noivas, namoradas, ou outros alvos (que podem ser ou não causadores / motivadores) dessa medida extrema.
Grande parte da sociedade tem um elevado grau de tabu acerca deste assunto, evitando maiores aprofundamentos teóricos ou acaloradas discussões.
As reacções ao suicídio variam de cultura para cultura. O acto é considerado um pecado em muitas religiões, quando insignificante, e um crime em algumas legislações, quando premeditado.
Agostinho de Hipona demonstrou uma teoria em que consta que cristãos não podem cometer suicídio já que o mandamento ‘Não matarás’ proíbe matar, mesmo sendo a nós mesmos. Por outro lado, algumas culturas vêem tal acto como uma forma honrosa de escapar a situações vergonhosas ou desesperantes.
As pessoas que cometem o suicídio, com ou sem sucesso, deixam geralmente um bilhete para explicar e justificar tal acto, o que comprova que o suicídio é, de uma maneira geral, um acto muito bem premeditado e minuciosamente planeado.
Há uma frase célebre de filósofo Albert Camus: "O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia"
Já nos povos da antiguidade existia o acto de terminar com a própria vida, muitas vezes até visto como um ritual privilegiado ou uma oferenda aos deuses que lhes abriria o caminho para a outra vida. Há também, actualmente, países onde a prática do suicídio é um acontecimento comum e até exigido pela superstição, por exemplo, na Índia, as mulheres lançam-se à fogueira onde os cadáveres dos seus esposos foram consumidos pelas chamas. Estas práticas têm vindo a ser proibidas, há até quem defenda que a tentativa de suicídio deveria ser punida por lei.
Devemos também considerar o para-suicídio, isto é, a prática de actos que simulam a vontade de morrer, são actos não fatais em que não ocorre a intervenção de outrem. Isto pode acontecer através da ingestão de uma dose excessivamente elevada de comprimidos ou da auto-flagelação, estes actos podem muitas vezes ser considerados como birras ou amuos pelos que rodeiam o indivíduo. O para-suicidio é praticado pelo indivíduo com vista a conseguir modificações imediatas com o seu comportamento ou a partir de eventuais lesões físicas consequentes.
http://www.youtube.com/watch?v=DGdI8oJr634&feature=related

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Introdução



Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não se toma a decisão de acabar com a própria vida de um momento para o outro. Quando alguém decide tomar tal decisão já pensou bastante sobre o assunto, ponderou as suas soluções e, perante as saídas que vê para os seus problemas, decide tomar a decisão mais radical que se pode tomar: pôr término à vida. 
Perante o facto de o suicídio ser uma das maiores causas de morte dos adolescentes em Portugal é importante esclarecer as pessoas sobre mitos e factos do que realmente o suicídio envolve. Este esclarecimento é também importante a nível de evitar que o número de suicídios aumente pois se as pessoas souberem reconhecer um comportamento suicida ou se souberem que existe alguém que os pode ajudar num momento difícil podem-se evitar muitas mortes.
O acto do suicídio está muitas vezes envolto em mistérios, suposições e juízos que, na maior parte das vezes, são errados e se devem ao desconhecimento das verdadeiras razões ou causas que tornam alguém mais vulnerável à ideia do suicídio.
As opiniões divergem, é um assunto extremamente polémico, e por isso  no decorrer do nosso trabalho tentaremos esclarecer a ideia do suicídio, de modo a informar o maior número possível de pessoas e prestar auxílio, caso seja necessário. Este é um assunto da maior importância para a população em geral e por isso, através de objectivos que nos propomos atingir tentaremos combater as atitudes ignorantes e preconceituosas alertando a população para este problema.

“Quando o Homem quiser aprender a viver o suicídio, suicida-se!”
 (Gia Carneiro Chaves)

Poema "À morte"


À morte

 

Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E, como uma raiz, sereno e forte.

Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte, dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me às asas que voaram tanto!

Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto!

Florbela Espanca